Sabe de qual estou falando, né? Divertidíssimo, aquelas plataformas girando loucamente, gostinho incrível de liberdade. Viagem de luzinhas piscando, música alta, rotação-translação tão alucinante que mal se pode distinguir os rostos. Passa um, passa outro, e mais outro… epa, daquele lá eu gostei! Ih, já foi… hum, mas esse aqui é interessante também…
O brinquedo para, você desce da cabine e pode ser que até cruze com alguns deles na saída, parceiros de prazer certo, mas quem importa, o negócio é entrar na fila de novo. Tem tanta gente ainda, tanta diversão garantida. Uma maravilha, mas um dia cansa, né, aí a gente quer dar um descanso pro estômago, procura uma vertigem mais tranquila, um girar a dois mais cúmplice, mãos nas mãos e olhos nos olhos, sacomé.
É uma pena mesmo que a fase da cosquinha no coração dure tão pouco. Muitas vezes, o casal sai da xícara maluca e vai direto para a roda gigante. Por algum tempo é até legal, filminho, pipoca, barzinho pra quebrar a rotina, mas aí o algodão doce acaba e aquela repetição de paisagem começa a encher. Agora é tudo previsível, enfadonho, insosso.

Tec, tec, tec
É quando damos uma olhada pro lado e lá estão as amigas se esbaldando no crazy dance. Aí nos pegamos com aquela pontinha de inveja ou até mesmo com vontade de brincar com o vizinho… Nessas horas, não há maçã do amor que salve, colega. E o comodismo é só o passaporte para a montanha russa.
Casal em crise, super radical. Uma TPM atacada é o que basta para acionar a subida do carrinho. Uma resposta mal dada e vão subindo, tec, tec, tec, uma chamada não-atendida, tec, tec, tec, uma desculpa esfarrapada, tec, tec, tec, uma mentira mal arquitetada, tec, tec, tec… parou. Agora já estão lá em cima e só resta cair.
AAAAAAHHHHHHHHHHHHHH dá-lhe a discutir relação botar o dedo na cara desenterrar mágoa passada derramar lágrima de raiva gritar palavra sufocada… ufa!
Trégua… suspiro de alívio… epa, já estão subindo de novo. Depois da primeira queda as subidas são bem mais rápidas, a gota d’água cai mais cedo, o pavio encurtou, vai ver é a inércia do carrinho. Quando dão por si já estão de cabeça para baixo. É quando um dos dois não aguenta mais tantos altos e baixos e pede pra sair. Poderia ser pior, já pensou no bate-bate de um divórcio litigioso?
Sabe qual é o ideal, diversão na medida? Bolas, não sei o nome dele. Aquele brinquedo giratório que a gente vê nos filmes americanos, sabe? Enorme, majestoso, as cadeiras coloridas presas por correntes, girando, girando. Daria pra ficar ali pra sempre, não daria? É assim que deve ser: sem queda livre nem looping, só vento batendo, cabelo voando, sorriso bobo e aquela sensação gostosa de ter as vísceras meio suspensas. Tem de ter frio na barriga, não adianta, é o temperinho. Mas tem de ser adrenalina saudável, segura, com gosto de doce feito em casa.
E pro fim da vida a gente só quer alguém pra nos fazer companhia no trenzinho. Alguém pra encostar os ombros no passeio contemplativo, olha que bonito, amor, tudo que construímos, nossos frutos, piuíííí. Mas falta muito tempo ainda. A gente tem a vida toda pela frente e a pulseirinha no braço dá direito a muitos erros.
por: Luisa Nucada
em: http://suspirosedesatinos.wordpress.com
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