
Aos vinte e tantos anos já não se é um livro em branco faz tempo. Muito antes, já não se é. Carrega-se o peso dos capítulos, inclusive dos arrancados. Há nas linhas, também, leveza. E maturidade para assumir algumas rasuras.
Tem trecho que faz gosto de ler, então voltamos no tempo, que é uma traquinagem da leitura para reviver o friozinho. Quando o livro é a vida, cada ato dita o enredo. O olho que espia, por exemplo, já foi alvo de cisco. O lábio que beija já tremeu em choro... Só com honestidade é possível avaliar cada momento. De novo: honestidade.
A edição é ilustrada com memórias que marcam épocas. Todas em aquarelas embaçadas nas bordas, que é o jeito da aquarela abraçar o papel. Quem se atém ao resumo não compreende as entrelinhas. E elas são tão importantes... Por isso custa tempo conhecer alguém a fundo. E se este alguém não se autoconhece, leva-se mais tempo ainda.
Numa releitura icônica de si, quando publicações já não te refletem, seus dizeres são ditos apenas cara a cara. É do fundo dos olhos, nas margens da alma, que se ouve a voz gutural revelar: é isto que sou. De todos os personagens que a vida lhe exigiu ao longo da peça, o verdadeiro eu entende que já não lhe cabe nenhum papel. A quantidade de páginas disponíveis para o futuro é um mistério. Tão logo, aconselha:
Nas tempestades e calmarias, ocupe-se de sua melhor versão.
E assim vivemos o livre arbítrio que nos cabe para ser o que se é. De novo: Sê o que é!
- Caminhos do Amor